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Medicine da CUF e Cocoordenadora do Menos Sal Portugal. “Estamos a trabalhar aquilo que intermedeia o trabalho clínico e as medidas políticas: a responsabilização do consumidor, dando-lhe competências para identificar as fontes de exposição ao sal e recorrer a alternativas”, explica a investigadora. Nesse sentido, foi trabalhada a área da nutrição clínica, nomeadamente os erros alimentares e os fatores de risco individuais, “explicando as consequências que o consumo excessivo de sal tem para a saúde e que medidas concretas podem ser aplicadas”. Um estudo inédito Foi a primeira vez que foi realizado um estudo de intervenção sobre as consequências do consumo excessivo de sal na saúde dos portugueses. E a palavra-chave é mesmo “intervenção”. “Não fomos observar o que as pessoas comiam ou medir a quantidade de sódio na urina num determinado momento, isolado”, refere Conceição Calhau. “Fizemos, sim, uma avaliação no momento inicial e final da intervenção com

Principais fontes de sal

75 % Alimentos processados

Sódio intrínseco nos alimentos

12 %

o objetivo de avaliar se as ações que concebemos [para a redução do consumo de sal] são eficazes.” Para alcançar esta meta, 311 voluntários foram acompanhados diariamente, ao longo de 12 semanas, por nutricionistas com quem se encontravam semanalmente na CUF ou no Pingo Doce. “Tivemos participantes muitíssimo

“É fundamental explicar onde está o sal, como se lê a rotulagem nutricional, e dar competências ao consumidor para tomar as melhores decisões.” Conceição Calhau Cocoordenadora do programa Menos Sal Portugal

Sal adicionado à mesa

7 %

6 % Sal adicionado durante a confecção culinária

empenhados. Penso que o elevado grau de escolaridade da maioria teve um peso importante”, explica a investigadora a propósito das caraterísticas da amostra de voluntários, que considera heterogénea do ponto de vista alimentar e de problemas de saúde. Os participantes foram acompanhados no Hospital CUF Infante Santo e no Hospital CUF Descobertas. “Em todas as consultas de nutrição foram avaliados o peso, o perímetro da cintura, a pressão arterial.” Por sua vez, nas deslocações ao Pingo Doce, os nutricionistas procuraram ensinar os voluntários a lerem os rótulos e a reconhecerem os produtos mais saudáveis. “Trabalhámos com os voluntários na aquisição dos alimentos no supermercado, considerando que grande parte do sal é consumido através do consumo de produtos processados”, diz Conceição Calhau. “É fundamental explicar onde está o sal, como se lê a rotulagem nutricional, e dar competências ao consumidor para tomar as melhores decisões.” Esforço em família Duas das voluntárias que participaram neste estudo foram Maria Deolinda Cerqueira, de 49 anos, e Andreia Cerqueira, de 23. Mãe e filha, residentes em Caneças, Lisboa, que afirmam que sempre estiveram despertas para esta problemática alimentar. “Cortar no sal já fazia parte da nossa rotina”, explica a filha mais velha de Maria Deolinda, que salienta que “às vezes havia ‘guerras’ em casa por causa da sopa. É que, quando eu fazia, não tinha sal.” A mãe partilha o hábito, embora prepare as suas sopas com algum sal – pouco –, mas o pai, que se afirma

Teor de sal por 100 gramas

Baixo Menos de 0,3 gramas

Médio Entre 0,3 e 1,5 gramas

Alto Mais de 1,5 gramas

FONTE: DIREÇÃO-GERAL DA SAÚDE

+vida _ novembro 2019 | 51

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