Revista + Vida 24 | A visão em primeiro plano

foco |

SAÚDE OCULAR | A visão em primeiro plano

“Agora, já vejo a cara das pessoas sem óculos”

HISTÓRIAS CUF

Tal mãe, tal filha. Elsa Antunes, atualmente com 50 anos, usou durante muito tempo lentes de contacto descartáveis devido a uma alta miopia (23 dioptrias) no olho direito. Isso não a impediu de levar uma vida normal, nem sequer de praticar desporto – “Do olho esquerdo via perfeitamente bem”, revela esta professora –, mas acabou por ser necessário avançar para a implantação de uma lente dentro do olho direito. Estávamos em 1998. Avançamos mais de duas décadas no tempo e encontramos Bruna Teixeira, de 22 anos, filha de Elsa, que partilhava com a mãe a diferença de dioptrias entre os olhos – quatro no esquerdo e 18 no direito –, o que a impedia de usar óculos. Bruna ainda se recorda do dia em que colocou pela primeira vez lentes de contacto: “Foi muito estranho para mim.” A jovem, natural de Fafe, frequentava na altura a escola primária e, naquela idade, as lentes eram mesmo a única opção de tratamento disponível. Com a ajuda dos pais e das educadoras, o ritual de retirar as lentes antes de tomar banho ou de ir dormir, bem como os cuidados no seu manuseamento e limpeza, acabaram por se tornar um hábito tão natural como qualquer outro. “As lentes nunca me impediram de nada”, garante esta estudante de mestrado. Não obstante, também se tornou necessário avançar para uma solução, precisamente a mesma que havia sido aplicada na sua mãe: a implantação de uma lente dentro do olho direito. Aconteceu em setembro de 2019. Embora o procedimento cirúrgico tenha sido o mesmo, existiram diferenças no modo como este foi realizado, como sublinha Fernando Vaz, Coordenador de Oftalmologia no Instituto CUF Porto e no Hospital CUF Porto, que acompanhou mãe e filha em ambos os casos. Uma evolução que se vê Para Fernando Vaz, o facto de Elsa Antunes e Bruna Teixeira terem partilhado uma alta miopia no olho direito e uma miopia mais baixa no olho esquerdo indicia a existência de uma “componente hereditária”.

Elsa Antunes e Bruna Teixeira , mãe e filha, sofriam exatamente das mesmas patologias – alta miopia e ambliopia – e foram tratadas pelo mesmo médico, embora com técnicas distintas, com uma diferença de pouco mais de vinte anos. A alta miopia, refira-se, afeta cerca de 2% da população mundial, registando-se quando o número de dioptrias é superior a seis. No entanto, além de míopes, mãe e filha eram também amblíopes, ou seja, tinham baixa visão. “Mesmo com óculos, tinham uma visão de 30 a 40%”, recorda o médico. Em casos como os de Elsa Antunes e Bruna Teixeira, em que o número de dioptrias é muito elevado, o tratamento por LASIK (cirurgia refrativa por laser ) está fora de questão. “Teríamos de pôr a córnea plana demais e fina demais, e não haveria nem estabilidade, nem qualidade de visão”, diz Fernando Vaz. Na intervenção que Elsa Antunes fez, em 1998, foi-lhe colocada uma lente intraocular fáquica Nuvita, no seguimento de uma anestesia geral, através de uma incisão de 6 milímetros. A recuperação demorou cerca de um mês. Já no caso de Bruna Teixeira, 21 anos depois, foi-lhe implantada uma lente ICL, menos agressiva para o olho, a anestesia foi tópica (apenas com gotas), a incisão foi de apenas 2,2 milímetros e a recuperação da visão foi “quase imediata”. Reflexo da enorme evolução que se verificou nesta área em apenas duas décadas. “A Bruna, depois de operada, tem uma visão de 80%, o que é espetacular”, refere Fernando Vaz. “E o resultado que a Elsa teve foi muito semelhante ao da filha.” Mãe e filha não podem estar mais felizes com os resultados. “Agora, vejo as caras das pessoas sem óculos. Tem sido muito bom”, diz a jovem. “Estou muito satisfeita”, acrescenta a mãe.

RAQUEL WISE/4SEE

A miopia explicada em cinco factos Ocorre quando o globo ocular é maior do que o normal ou a córnea mais curva do que deveria ser, o que por sua vez afeta a maneira como as imagens são formadas e transmitidas ao cérebro.

A miopia é um erro refrativo que prejudica a qualidade da visão ao longe.

Não são conhecidas as causas exatas da miopia, mas a sua base é essencialmente genética.

É um problema ocular cada vez mais comum devido ao uso excessivo de dispositivos eletrónicos.

Estima-se que entre 20 a 30% da população mundial tem miopia, sendo ligeiramente mais frequente nas mulheres.

28 | +vida _ novembro 2019

Powered by