Revista + Vida 28 | Cancro da Mama

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CANCRO DA MAMA

do cancro da mama nas mulheres jovens, tendo os resultados sido recentemente publicados pela Sociedade Europeia de Oncologia Médica. “Trato cancro da mama há mais de 20 anos e, ao longo deste tempo, senti que havia um aumento de casos na mulher jovem. Propus a uma das médicas internas que nos debruçássemos sobre um grupo alargado de hospitais da área metropolitana de Lisboa, para analisarmos todas as mulheres com menos de 35 anos dessas instituições”, explica Sofia Braga. Feita ao longo de 10 anos, a observação de 207 mulheres seguidas no Hospital CUF Tejo, no Hospital CUF Descobertas, no Hospital Vila Franca de Xira, no Hospital Fernando da Fonseca, no Centro Hospitalar Barreiro-Montijo e no Centro Hospitalar Lisboa Ocidental permitiu concluir que existe uma tendência para tumores mais agressivos entre as mulheres mais jovens. “Encontramos estadiamentos avançados (30% das mulheres em estadios III e IV) e biologias do tumor mais agressivas. Ao mesmo tempo, registámos uma sobrevivência mais alta do que seria de esperar, de 85% aos cinco anos. Por fim, verificámos uma prevalência baixa de testes genéticos”, elenca Sofia Braga.

Em Portugal, cerca de 17% dos cancros da mama ocorrem em mulheres com menos de 50 anos.

Luís Costa • Oncologista no Hospital CUF Descobertas

A necessidade de avaliar o risco familiar

A ausência de um rastreio padronizado para mulheres muito jovens e o diagnóstico da doença numa altura em que esta já manifesta sintomas ajudam a explicar a presença de cancros da mama mais avançados nesta faixa da população. Médicos e investigadores acreditam que isso poderia ser evitado com o conhecimento da história familiar e genética. “A história familiar é muito importante. Independentemente de a pessoa ter ou não uma mutação genética, o facto de ter familiares de primeiro grau com cancro da mama torna-a uma mulher de maior risco”, refere Luís Costa. “No cancro da mama hereditário, as mulheres são portadoras de uma mutação num gene que tem por função reparar lesões do ADN e, como não têm esse gene funcionante, têm uma maior probabilidade de vir a ter cancro. É algo que corresponde

a menos de 10% dos casos, mas que é mais frequente em mulheres mais jovens. É uma pena nem sempre diagnosticarmos estas mulheres a tempo”, refere o Oncologista, para quem, contudo, nunca é tarde para identificar este tipo de mutação: “Se a identificarmos numa senhora com 50 anos que tem uma filha de 25, a filha poderá ser orientada.” Foi a pensar nisto que a CUF criou a consulta multidisciplinar de avaliação de risco familiar, que reúne uma equipa que congrega as especialidades de Genética Médica, Anatomia Patológica, Oncologia, Gastrenterologia, Imagiologia, Psicologia e Enfermagem. “Nas nossas consultas de Oncologia e Cirurgia fazemos uma avaliação sistemática do risco. Não faria sentido fazer testes genéticos de forma indiscriminada, por isso, se suspeitamos de uma elevada probabilidade

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