Revista + Vida 27 | A saúde em primeiro plano

A importância da multidisciplinariedade “Nunca tínhamos ouvido falar desta doença”, lembra Ana Rita que, naturalmente, admite não ter sido fácil receber a notícia: “Foi como ter o mundo a desabar-nos em cima.” Como explica Gabriela Vasconcellos, Coordenadora da Unidade de Cuidados Intensivos de Neonatologia do Hospital CUF Porto, a HTPPRN “é uma condição grave com morbilidade e mortalidade significativas” em resultado da persistência de “uma pressão pulmonar alta após o nascimento, que dificulta ou impede a oxigenação do sangue através do pulmão”. No fundo, simplifica a Neonatologista, “é como se houvesse um ‘curto-circuito’ e o sangue não passasse pelo pulmão para ser oxigenado”. Por não ser uma doença comum, e pela gravidade do quadro clínico que apresenta, a HTPPRN “é desafiante para a Neonatologia, exigindo experiência, diferenciação, apoio multidisciplinar e técnicas terapêuticas específicas”. Segundo a especialista, esta é uma doença que “exige recursos humanos e técnicos diferenciados, incluídos num hospital com diferentes valências de resposta imediata”. Isso passa por ter equipas multidisciplinares de médicos e enfermeiros experientes, nomeadamente em Neonatologia, Cardiologia e Cirurgia Pediátrica, Medicina Transfusional, Patologia Clínica, Imagiologia, entre outras especialidades, tendo em conta as várias complicações que podem surgir durante o tratamento. Para tratar a HTPPRN, além dos recursos humanos, é imperativo que exista uma unidade de cuidados intensivos neonatais com diferentes equipamentos de monitorização e terapêutica, entre os quais o tratamento com óxido nítrico inalado. “Apesar de ser uma terapêutica de uso urgente, pelas suas especificidades e custo não se encontra em todas as unidades”, sublinha Gabriela Vasconcellos. Foi neste ambiente multidisciplinar que o Lourenço foi tratado no Hospital CUF Porto. “Confirmada a hipertensão pulmonar severa com critérios para iniciar terapêutica com óxido nítrico, o Lourenço manteve-se em ventilação mecânica invasiva, com alimentação parentérica total e antibióticos (com recurso a cateteres centrais para administração de fármacos e outros fluidos), registando-se uma melhoria progressiva e sustentada até à alta”, explica a Neonatologista. Enquanto isso, para os pais, os 13 dias de internamento do filho foram um momento difícil que só foi amenizado pelo acompanhamento “excecional” por parte da equipa. “Sentimo-nos sempre à vontade para perguntar o que fosse preciso e tanto médicos como enfermeiros sempre tiveram uma palavra de atenção para connosco”, lembra Ana Rita Sousa. As palavras que mais recorda foram as da pediatra Paula Rocha que, ao longo da terapêutica com óxido nítrico que o Lourenço recebeu, foi sempre atualizando os pais. Hoje, passado mais de um ano, o Lourenço continua a ser seguido no Hospital CUF Porto e a evolução tem sido “favorável e adequada, tanto do ponto de vista do crescimento como do desenvolvimento psicomotor”, sem qualquer intercorrência ou complicação decorrente da HTPPRN, atualiza Gabriela Vasconcellos. Uma atualização que, nas palavras da mãe, parece demonstrar que o pior já passou. “O Lourenço está a desenvolver-se como uma criança normal. Já anda e já palra. Não diz nada, mas palra muito”, brinca.

Gabriela Vasconcellos • Coordenadora da Unidade de Cuidados Intensivos de Neonatologia do Hospital CUF Porto

O QUE É A HIPERTENSÃO PULMONAR PERSISTENTE DO RECÉM-NASCIDO?

É uma doença grave na qual as artérias que chegam aos pulmões permanecem contraídas depois do parto. Esta condição limita a quantidade de sangue que chega aos pulmões e, desta forma, a quantidade de oxigénio na corrente sanguínea. QUAIS SÃO OS SINTOMAS? O recém-nascido de termo ou pós-termo apresenta uma dificuldade respiratória grave. A respiração pode ser rápida e a pele e/ou lábios podem ter uma tonalidade azulada, pálida ou cinzenta. QUAIS SÃO AS CAUSAS? Malformações, infeções, aspiração de mecónio (primeiras fezes do bebé), entre outras. Em alternativa, pode ser idiopática, isto é, sem uma origem identificada. COMO SE TRATA? Pode ser necessário recorrer à administração de oxigénio suplementar, de óxido nítrico, com necessidade de utilização de um ventilador ou, em casos raros, de oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO).

ANTÓNIO PEDROSA (4SEE)

Powered by