Revista + Vida 28 | Cancro da Mama

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CANCRO DA MAMA

As novas terapêuticas

determinadas bactérias que podem potenciar a ação da imunoterapia, outras que a podem inibir, e o mesmo acontece para os seus efeitos secundários”, explica Diogo Alpuim, que tem realizado investigação na área da microbiota. “Vamos ter de olhar, cada vez mais, não só para a biologia do tumor, mas também para a microbiota intestinal e para a microbiota local, porque a mama também tem microrganismos.” Investigações recentes mostraram que, no caso do cancro da mama hormonossensível, sobretudo nas doentes em menopausa, as mulheres têm uma flora intestinal diferente da de uma mulher saudável, constituída por bactérias que alteram a forma como metabolizam os estrogénios. “Absorvem muito mais estrogénios para a sua corrente sanguínea do que uma mulher saudável, o que faz com que estejam durante mais tempo com mais efeitos destes estrogénios circulantes”, diz Diogo Alpuim. Outros estudos mostram que é possível identificar determinadas bactérias na flora da mama que, quando presentes, indiciam a presença de doença invasiva. “É incrível perceber que a mama também tem o seu ecossistema, o qual pode não só ter levado ao desenvolvimento do próprio cancro como até poderá interferir na resposta aos medicamentos.” É o investimento contínuo na investigação e na inovação que tem garantido que, cada vez mais, as histórias de cancro da mama possam ter um final feliz. Como o caso de uma doente acompanhada por Diogo Alpuim, jovem, mãe de uma criança, diagnosticada com cancro localmente avançado. “Fez um tratamento de quimioterapia combinada com dois anticorpos monoclonais (que atuam nos recetores HER2) em que o tratamento correu tão bem que, quando foi operada, só havia o ‘esqueleto’ do tumor. Teve uma resposta completa!”, recorda o médico. A doente em questão tinha o desejo de voltar a ser mãe e, anos mais tarde, interrompeu o tratamento de hormonoterapia e conseguiu engravidar. “Teve uma menina e está em remissão do cancro.” Por trás de cada história de sucesso está, na maioria das vezes, um diagnóstico atempado, por isso, Sofia Braga é taxativa: “Não adiem os exames de rotina. Arranjem tempo e não tenham medo.”

Um tratamento com sucesso do cancro da mama depende, na maior parte dos casos, do seu diagnóstico atempado.

Sofia Braga destaca as novas terapêuticas que estão a surgir para o cancro da mama triplo negativo: “Trabalhamos muito com anticorpos para fazer a terapêutica dirigida a certas moléculas que o cancro da mama expressa. No último ano, surgiu um anticorpo especial que parece ser interessante para o carcinoma da mama triplo negativo. Há uma nova geração de fármacos em que o anticorpo leva o medicamento especificamente à célula que pretende atacar e, por isso, têm menos toxicidade e permitem a utilização de fármacos mais fortes.” Até aqui, a quimioterapia era a única terapêutica indicada para este tipo de tumores, que representam cerca de 15% dos casos, como recorda Mário Fontes e Sousa: “É uma área de grande necessidade de inovação, porque afeta sobretudo doentes jovens, tem prognóstico adverso e é aquele que mais se associa a alterações genéticas hereditárias.” A imunoterapia tem sido outra das vertentes terapêuticas aplicadas e um campo que também tem beneficiado particularmente com a investigação feita sobre as bactérias do corpo humano. “Há cada vez mais trabalhos sobre

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