Revista + Vida 28 | Cancro da Mama

O cancro da mama nas mulheres jovens

A evolução nas técnicas tem vindo a ser acompanhada pela adaptação das abordagens terapêuticas aos perfis das doentes, particularmente aos casos de mulheres mais jovens. “O cancro da mama na mulher jovem levanta várias questões”, refere Luís Costa. “A primeira, que deveria ser abordada de forma sistemática, é saber porque estão a aparecer tantos casos de cancro da mama em mulheres jovens. A segunda é saber se é uma lesão com alto risco para recidiva ou não e o que podemos fazer para diminuir a probabilidade de o cancro vir a ser fatal. Por fim, uma terceira questão: saber que impactos o cancro da mama e os tratamentos necessários terão na restante saúde da mulher – na fertilidade e não só.” Há alguns anos, gravidez e maternidade pareciam ser palavras proibidas às mulheres com cancro da mama, mas já não é assim. Carlos Rodrigues, Ginecologista, Obstetra e Coordenador da Unidade da Mama no Hospital CUF Santarém e no Hospital CUF Torres Vedras, revela que os diagnósticos de cancro da mama durante a gestação e período de aleitamento, infelizmente, têm vindo a crescer, o que pode ser parcialmente explicado pelo facto de as mulheres engravidarem cada vez mais tarde. “Há 30 anos, era raro encontrarmos uma mulher grávida com mais de 35 anos. Se a mulher difere o plano reprodutivo para próximo da menopausa, vamos obter muitas grávidas com várias doenças, como hipertensão, diabetes e cancro. Estamos adaptados à sociedade em que vivemos nos nossos hábitos, mas não na nossa biologia”, explica o médico. Também há outra justificação: muitas mulheres apenas são examinadas no médico quando estão grávidas. “É uma oportunidade única para a promoção de hábitos de vida saudável e realização de exames. E, muitas vezes, é nesses exames que se fazem antes da gravidez que são detetados os tumores.” Na maior parte dos casos, é possível conciliar a gestação com a doença. “Não devemos dizer que isto é sempre assim ou que nunca é assim. Depende do tipo de cancro. Mas na maioria das vezes é possível conciliar,

Carlos Rodrigues • Ginecologista, Obstetra e Coordenador da Unidade da Mama no Hospital CUF Santarém e no Hospital CUF Torres Vedras

já que existem fármacos que, em termos de quimioterapia, podem ser feitos durante a gravidez”, esclarece Carlos Rodrigues. Noutros casos, poderá ser necessário adaptar a idade gestacional ao cancro, antecipando um pouco o nascimento, por exemplo, para permitir à mulher grávida continuar o tratamento. Nos casos em que o cancro é descoberto durante a programação da gravidez, há que avaliar o tipo de cancro, qual é a probabilidade de fazer quimioterapia e se é ou não necessário o recurso a técnicas de preservação de fertilidade. “Se não tiver uma probabilidade elevada de vir a fazer quimioterapia nem precisa de fazer, por exemplo, criopreservação de ovócitos, a doente faz o seu tratamento e, depois de dois anos de seguimento sem recidiva, é seguro haver uma gravidez.”

Os diagnósticos de cancro da mama durante a gestação e período de aleitamento têm vindo a crescer.

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LUÍS FILIPE CATARINO (4SEE)

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