Revista + Vida 28 | Cancro da Mama

Mais de cinco anos depois de superar um cancro na mama, a atriz Sofia Ribeiro avalia a experiência na CUF e explica o que mudou na sua vida. A Sofia foi acompanhada na CUF durante um momento particularmente complicado da sua vida: a luta contra o cancro da mama. Como avalia a forma como foi assistida? O acompanhamento na CUF foi maravilhoso. Devo-lhes muito. Em qualquer área há bons e maus profissionais, mas eu tive a maior das sortes na equipa que me acompanhou, desde os médicos aos enfermeiros e auxiliares. São pessoas com quem ainda hoje mantenho contacto e que ficaram para sempre no meu coração. Profissionais pragmáticos, mas, na mesma proporção, generosos e humanos. Isso fez e faz toda a diferença. Houve algum momento que a tenha marcado particularmente? Foram tantos os momentos e as pessoas que seria injusto para com quem me acompanhou contar apenas uma história. O que mais recordo são, sem dúvida, os olhares de ternura e de “força, estamos contigo!” de cada um. Sentiu que, ao iniciar o tratamento, as suas dúvidas foram devidamente esclarecidas? Sinto que fui devidamente acompanhada, esclarecida, informada e acarinhada. Quais considera as qualidades essenciais de um profissional de saúde que acompanhe pacientes que se debatam com cancro da mama? Tenho o maior carinho por quem me ajudou a ficar bem. Só tive duas pequenas situações [negativas] durante o processo em que estive doente, com dois médicos que não faziam parte da equipa que me acompanhou. Felizmente, só os vi uma vez. É como disse: há bons e maus profissionais em todas as áreas. É fundamental que os médicos, enfermeiros e auxiliares tenham uma sensibilidade apurada para lidar com casos destes. Estamos a falar de pessoas que estão cheias de medo, provavelmente mais frágeis do que nunca, por isso não basta tratar: é fundamental saber cuidar. Muitas vezes, a alma está mais dorida do que o corpo. E nem todos os profissionais estão preparados para ler isso. É preciso ser-se francamente generoso. Foi isso que encontrei na CUF. Como refere, além das questões físicas, o cancro tem também um forte impacto psicológico. Quais foram os principais desafios que enfrentou ao longo do tratamento e como os superou?

Agarrei-me com todas as forças aos meus. Às minhas pessoas. Aos amigos que são família. À vontade que tinha de viver. Aos sonhos por cumprir. Na altura, era tudo novo para mim. Eu tinha acabado de fazer 31 anos, a minha vida estava completamente virada do avesso, tinha todos os medos, dúvidas e perguntas que alguém que passa por um diagnóstico de cancro tem. Mas a onda de solidariedade que se gerou, a onda de amor e de ajuda, foi tão poderosa... A energia que me chegava era tanta... À medida que o tempo foi passando, fui tendo noção de que tudo o que me chegava – partilhas, testemunhos, dicas, palavras de alento – me ajudava muito. E que também eu, com as minhas partilhas, estava a ajudar outras pessoas que passavam ou tinham passado pelo mesmo. Porque o ser humano precisa e procura referências, seja em que área ou momento da vida for. Eu procurei. Precisei de ouvir testemunhos. Fez-me bem saber que não estava sozinha, que já muita gente tinha passado pelo mesmo e estava cá. Essa troca deu-me muita força. Além disso, também superei com humor. Aligeirar o que por vezes é pesado demais alivia e, a meu ver, coloca-nos na energia certa para aguentar os embates. Mas não há uma fórmula para viver algo assim. Esta foi a minha. Cada pessoa viverá a sua, da forma que a fizer mais feliz. No seu livro Confia , revela que um dos aspetos que mais a surpreendeu foi a potencial relação entre tratamentos de quimioterapia e infertilidade. Considera que ainda não se fala o suficiente sobre o cancro em mulheres jovens? É essencial trazer o tema do cancro para cima da mesa. Ainda existe muita falta de informação que vem da falta

de interesse comum, associada ao pânico que esta doença parece ter nos mais diversos meios, faixas etárias, culturas e estratos sociais. Como se, ao falar do tema, se pudesse ficar doente. Enquanto lermos, vermos e ouvirmos os meios de comunicação a falar de cancro como uma doença prolongada, ainda haverá muito por fazer. Enquanto continuarmos a ouvir, como

“Sinto que fui devidamente acompanhada, esclarecida, informada e acarinhada.”

eu já ouvi mais do que uma vez, “quem procura acha”, ainda haverá muito por fazer. Enquanto se achar que o cancro vem por castigo ou por merecimento e enquanto o medo e o receio “turvarem a vista” e se fingir que, não ouvindo, não existe problema, continuarão a haver mal-entendidos. Ainda assim, já muito se fez – e faz! Estamos no bom caminho. Estamos todos mais despertos para a questão e fico de coração cheio por também fazer um bocadinho parte desse caminho.

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REVISTA ESTANTE (FNAC) | BRUNO COLAÇO (4SEE)

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