Revista + Vida 29 | Saúde Mental

A prática regular de atividade física é recomendada para a manutenção de uma boa saúde mental em idades mais avançadas.

Elsa Lara • Coordenadora de Psiquiatria no Hospital CUF Tejo

Não obstante, é possível viver muito tempo com boa saúde mental. Para o conseguir, há que manter a estimulação cognitiva, apostar na vida social e, muito importante, contar com o afeto dos mais próximos. A estas recomendações, Rui Araújo, Neurologista no Hospital CUF Porto, acrescenta a manutenção de rotinas prazerosas que impliquem a participação ativa do idoso. A aposta no bem-estar físico é outra das “dicas” partilhadas pelo Neurologista. “Cada vez mais, sabemos que o exercício físico se traduz em ganhos cognitivos. E se forem pessoas com fatores de risco que contribuam para lesão cerebral, há que os reduzir ao máximo: garantir que a tensão está controlada, que não há uma descompensação da diabetes, que estão hidratados. Tudo o que mantenha o corpo saudável vai ter repercussões em termos cerebrais.” Existe uma relação bidirecional entre doenças do foro neurológico e do foro psiquiátrico a que os neurologistas estão particularmente atentos. “Sabemos que as doenças degenerativas, como o Alzheimer ou a demência vascular, têm em si alterações do foro psicológico e psiquiátrico. Os doentes têm muitas vezes quadros de apatia, irritabilidade, agressividade, alteração do comportamento e alteração do sono. Por outro lado, sabemos que os doentes com síndromas depressivos crónicos mantidos durante muito tempo podem originar alterações do raciocínio e da memória muito semelhantes à demência”, refere Rui Araújo. No entanto, nem todas as “falhas de memória” estão associadas a demência. “Muitas vezes, as pessoas falam de perda de memória quando não se lembram de onde pousaram as chaves em casa. Isso não é um defeito de memória, mas sim de atenção e concentração, porque grande parte do nosso dia a dia é feito de forma automática”, explica o Neurologista, acrescentando que, em fases de maior preocupação, é natural que estes defeitos de atenção tendam a agravar-se. “É o equivalente a termos o computador com dez janelas abertas em três browsers diferentes. É óbvio que vai haver uma que vai escapar e, no global, o processador vai ficar cada vez mais lento.”

+vida | 27

Powered by