Revista + Vida 29 | Saúde Mental

foco

SAÚDE MENTAL

A saúde mental em idades mais avançadas

As doenças neurológicas estão entre as principais comorbilidades para a doença mental entre os seniores.

As patologias psicológicas e psiquiátricas acompanham o ser humano ao longo de toda a vida. No entanto, em idades mais avançadas, o processo de envelhecimento e a coexistência de outras doenças exigem uma atenção redobrada para garantir que o diagnóstico e a abordagem são os mais acertados. De acordo com Elsa Lara, Coordenadora de Psiquiatria no Hospital CUF Tejo, as patologias psiquiátricas mais comuns na velhice são as perturbações depressivas, as ansiedades relacionadas com doenças (o que anteriormente se designava como hipocondria), a ansiedade geral e a deterioração cognitiva. “No que respeita à sobreposição da deterioração cognitiva com a depressão, é necessário estabelecer-se um diagnóstico diferencial no sentido de perceber se é primariamente um quadro depressivo ou um quadro de deterioração cognitiva, e isso passa por perceber quais as comorbilidades e patologias associadas, e se são fatores de agravamento e/ou de precipitação do quadro”, alerta a especialista. As doenças neurológicas estão entre as principais comorbilidades para a doença mental entre os seniores, o que implica uma colaboração estreita entre especialidades. “As relações de proximidade entre Neurologia e Psiquiatria são absolutamente necessárias”, sublinha Elsa Lara. São sobretudo os quadros de depressão e de defeito cognitivo ligeiro que, na idade avançada, mais exigem o diagnóstico diferencial com outras patologias, tais como as doenças neurodegenerativas ou as doenças metabólicas e cardiovasculares. Como não é fácil determinar o que se passa numa primeira consulta, é quase sempre necessário proceder a vários exames de diagnóstico: exames de imagem do cérebro, avaliação neuropsicológica e doseamento de vitaminas. Por exemplo, nas idades avançadas, os casos de depressão podem ser facilmente confundidos com um quadro demencial. “Há que tratar a depressão associada à deterioração cognitiva, pois nestes casos esta pode ter uma característica especial, sendo reversível mediante a instituição de uma terapêutica adequada com antidepressivos. Afinal o que existe é uma pseudodemência”, explica Elsa Lara. Uma vez instituída a terapêutica com antidepressivos, há que esperar pelo efeito terapêutico, que pode demorar semanas até ocorrer. Nestes casos, a abordagem clínica em grande proximidade entre a psiquiatria, a neuropsicologia e a neurologia é fundamental, afirma a Coordenadora de Psiquiatria do Hospital CUF Tejo.

Rui Araújo • Neurologista no Hospital CUF Porto

26 | +vida

MIGUEL PROENÇA (4SEE)

Powered by