U ma sucessão de acontecimentos negativos fez dos anos de 2020 e 2021 uma “tempestade perfeita” na vida de Tiago Alexandre Pimenta. Em poucos meses, perdeu os avós, um tio e a mulher esteve internada. A isto somaram-se uma avaria no carro que demorou meses a resolver, vários eletrodomésticos com problemas e a doença da sua cadela, que acabou por sobreviver depois de estar entre a vida e a morte. “Quando há um acumular de situações, começamos a ficar mal e tudo se torna amplificado. Cheguei a um ponto em que pensava que tudo ia correr mal”, admite Tiago. Incomodava-o a sensação de desesperança, mas também o facto de ter desenvolvido ansiedade social. “Achava que mais valia fechar-me para que não me acontecesse mais nada. Só que há coisas que controlamos e outras que não.” A sequência negativa ocorreu durante a pandemia, o que, para Tiago, também teve aspetos positivos. “Levo uma hora e quarenta e cinco minutos a chegar ao emprego e outro tanto para regressar. Como a entidade patronal nos colocou em teletrabalho logo a 20 de março de 2020, ganhei três horas por dia na minha vida”, explica. Por outro lado, ganhou um receio que lhe inibiu o convívio social: “Tinha medo de adoecer e de fazer os outros adoecer.” Apesar de já ter sofrido antes de depressão, apenas procurou ajuda em março de 2021, quando atingiu o limite. “A ansiedade estava a impedir-me de ter uma vida normal. Já não conseguia sair de casa e ir ter com amigos. Fui primeiro à médica de clínica geral e, depois, à consulta com a Dra. Beatriz Ruivo Lourenço”, recorda Tiago, que também recebeu acompanhamento TIAGO ALEXANDRE PIMENTA
psicológico. Além disso, desistiu das redes sociais e eliminou cerca de 80% das aplicações do seu telemóvel, o que, nas suas palavras, o ajudou “a evitar as microirritações”. Aos poucos, a ansiedade foi ficando para trás. “Foi algo que foi acontecendo gradualmente. Se saísse de casa para ir ter com amigos e a meio do caminho me começasse a sentir mal, voltava para trás. Sem pressões. Fui conseguindo fazer mais e mais e, neste momento, estou com a minha vida normalizada.” Tiago encara a depressão como “outra doença qualquer”, mas garante que o preconceito ainda existe. “Há muito estigma em relação a procurar ajuda e tomar medicamentos, mas as pessoas têm de entender que é algo necessário, que faz com que as pessoas sejam saudáveis. Conheço casos de pessoas que estão claramente deprimidas há anos, mas não o admitem e não procuram ajuda.” No seu caso particular, tem consciência de que viverá sempre com a depressão “na sombra”, mas acredita que está hoje muito mais atento aos sintomas que o devem levar a procurar ajuda. “Desta vez deixei passar muito tempo. É uma questão de autopreservação: se há uma forma de curarmos isto, não faz sentido estar a sofrer só porque achamos que vai ficar tudo bem sem ajuda.”
"Cheguei a um ponto em que pensava que tudo ia correr mal"
+vida | 25
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