foco
SAÚDE MENTAL
A importância de zelar diariamente pela saúde mental
“A saúde mental não se conquista quando a pessoa se apercebe de que tem um problema. É claro que, nessa altura, é fundamental procurar ajuda, mas a conquista da saúde mental deve ser um objetivo diário”, afirma Marco Torrado, Coordenador de Psicologia no Hospital CUF Tejo, para quem as relações afetivas significativas (aquelas que conferem sentimentos de segurança, pertença e bem-estar) são o pilar da saúde mental. Salienta ainda que a saúde mental não está dissociada da saúde física, porque não há saúde sem saúde mental. “Ainda existe a perceção de que a saúde psicológica é uma coisa um bocadinho à parte da saúde física, mas sabemos que a saúde psicológica é uma parte importantíssima da saúde global.” De acordo com o especialista, ainda existe pouca literacia no que à saúde mental diz respeito. Um fenómeno transversal e especialmente preocupante na forma como afeta a perceção que as pessoas têm do que são simples fragilidades e do que são mesmo perturbações mentais. “As pessoas, por vezes, não valorizam sintomas que se vão arrastando no tempo e tendem a procurar ajuda apenas quando já se verificam impactos muito significativos ao nível da sua capacidade de funcionar em termos psicossociais – por exemplo, no trabalho, no registo académico, no seio da família.” Esta convicção de Marco Torrado é secundada por Beatriz Ruivo Lourenço, Psiquiatra na Clínica CUF Almada, que cita o pré-mencionado estudo epidemiológico de 2014. “O estudo mostrou uma lacuna preocupante no tratamento de problemas mentais”, explica a médica. Para Beatriz Ruivo Lourenço, o protelar da procura de apoio especializado pode ser parcialmente explicado por fatores sistémicos, mas também tem muito que ver com o estigma que ainda está associado às doenças psiquiátricas. “Na tentativa de não serem rotuladas como sofredoras de doença mental, as pessoas evitam procurar ajuda ou abandonam o acompanhamento de forma precoce. Por sua vez, este atraso na procura acaba por condicionar doenças mais graves.” Segundo a Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, as patologias do foro psicológico e psiquiátrico representam 11,8% da carga global das doenças, ultrapassando até as doenças oncológicas. Não há dados objetivos que expliquem esta realidade. “A depressão e a ansiedade são, dentro das perturbações psiquiátricas, das que têm uma componente mais preponderante de fatores ambientais e sociais”, afirma a Psiquiatra. Isto significa que, em sociedades mais desiguais e com maiores níveis de pobreza, existem à partida mais fatores que podem causar sofrimento psicológico.
Marco Torrado • Coordenador de Psicologia no Hospital CUF Tejo
22 | +vida
RAQUEL WISE (4SEE)
Powered by FlippingBook