Revista + Vida 29 | Saúde Mental

As perturbações de ansiedade e de humor são as doenças mais comuns no campo da saúde mental.

As perturbações de ansiedade e de humor são as patologias mais comuns no campo da saúde mental, com uma prevalência respetiva de 16,5 e 7,9%. Marco Torrado aponta-as como o principal motivo dos pedidos de ajuda que surgem em consulta. A estas juntam-se outras, como perturbações relacionadas com vivências de stresse crónico ou dificuldades de ajustamento a acontecimentos de vida significativos, como desemprego, um diagnóstico de doença grave ou a perda de um familiar. A quem se destina, então, uma consulta de psicologia? “As consultas de psicologia destinam-se a pessoas com sinais de desconforto, mal-estar emocional, dificuldade em gerir aspetos da sua vida familiar ou profissional, dificuldades de relacionamento interpessoal ou dificuldades de adaptação a múltiplas doenças. Isto é aplicável tanto a adultos como a crianças e adolescentes”, esclarece Marco Torrado. A estas juntam-se pessoas com comportamentos aditivos, nomeadamente casos de dependência sem substância – por exemplo, dependência de redes sociais ou jogo online , os quais têm vindo a aumentar nos últimos anos, também devido às mudanças provocadas pela pandemia. “Os aspetos relacionados com o afastamento social, perda de pessoas e adaptação a múltiplos contextos de trabalho levaram ao incremento de comportamentos aditivos”, refere o Coordenador de Psicologia do Hospital CUF Tejo, para quem o

principal objetivo das consultas é ajudar os indivíduos a ajustarem a sua forma de funcionar de um modo que seja compatível com a sua qualidade de vida e com o seu bem-estar psicológico. “No Hospital CUF Tejo desenvolvemos esse trabalho, não só no contexto do serviço de Psicologia, em conjunto com o de Psiquiatria e demais Neurociências, mas também em articulação com as especialidades pediátricas, nomeadamente Pedopsiquiatria, Neuropediatria ou ainda no apoio aos doentes internados, casos em que a Psicologia pretende atuar em articulação com a Oncologia, a Medicina Interna, a Endocrinologia, e vice-versa.”

Como aprender a viver com uma doença psiquiátrica

Depressão, ansiedade generalizada, fobias e ataques de pânico são diagnósticos encarados com apreensão por uma boa parte das pessoas. No entanto, a verdade é que são problemas que podem ser tratados e até curados. “A depressão pode ser crónica ou não”, explica Beatriz Ruivo Lourenço. “Pode tratar-se de um quadro reativo que regride após o tratamento apropriado ou ser uma depressão crónica que exige tratamento ao longo da vida.” Por sua vez, doenças psiquiátricas mais graves, como perturbação bipolar ou esquizofrenia, têm um caráter crónico, mas, se forem devidamente tratadas, são perfeitamente compatíveis com uma vida funcional. “É como a tensão alta ou a diabetes: tem de se fazer a medicação todos os dias para que a doença se mantenha controlada.”

No caso específico da perturbação bipolar, esta caracteriza-se por duas fases distintas: a fase depressiva, com sintomas muito semelhantes aos da depressão, e a fase maníaca ou hipomaníaca, que corresponde a um grande aumento de energia, a um pensamento acelerado e a uma maior dificuldade em controlar os impulsos. A alternância entre as duas fases é muito variável e, na perturbação bipolar de tipo 1, pode ser de anos, meses, semanas ou até de apenas alguns dias. A esquizofrenia, por sua vez, diferencia-se pelos sintomas psicóticos. “As pessoas com esquizofrenia acreditam, de uma forma totalmente impermeável à argumentação lógica, em coisas que não correspondem à realidade”, afirma Beatriz Ruivo Lourenço. A isto juntam-se

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