Revista + Vida 25 | A sua saúde é uma prioridade

clínica e as respostas fisiológicas em diferentes níveis de intensidade do exercício, a partir da qual retiramos os parâmetros para construir um programa de exercício”, refere Afonso Rocha. Os treinos incluem sempre treino aeróbico — “um treino de longa duração com intensidade predeterminada em que resulta num aumento da frequência cardíaca e respiratória” — e treino de força. No caso de Iker Casillas, um atleta de alta competição com elevados níveis prévios de capacidade e intensidade cujo enfarte não teve critérios de gravidade, a opção recaiu num treino intervalado de alta intensidade. “É uma modalidade muito conhecida na alta competição, que permite atingir níveis de intensidade muito mais elevados. Não é fácil, mas o Iker teve uma evolução muito positiva e chegou a níveis de intensidade compatíveis com os de um atleta com os seus níveis de exigência sem qualquer tipo de preocupação”, garante Afonso Rocha. O programa foi realizado em articulação com o FC Porto, uma prática comum nestes casos. “Após o primeiro mês, e estando estabelecidos critérios de segurança relativos ao esforço de maior intensidade, começamos a fazer uma ponte com os preparadores físicos do clube para que possam fazer algum complemento das nossas sessões”, explica o especialista, salientando que, nestes momentos, a comunicação entre as duas equipas é fundamental. “Eles fazem monitorização e registos de resposta a diferentes tipos de exercício e nós damos feedback , de modo a potenciar resultados e, progressivamente, transitar alguma da nossa atividade para o clube”, revela Afonso Rocha. Para Iker Casillas, o tempo custou um pouco mais a passar. “Para quem está habituado a fazer desporto, passar para uma fase em que não se faz quase nada é difícil”, confessa. “Mas o tempo foi passando e fui-me

sentindo melhor.” Não obstante, admite que o regresso ao Olival, meses depois, foi um momento agridoce: “Foi emotivo. Estava mais perto de todos os meus colegas, mas não podia fazer o que fazia antes e não me sentia tão confiante.”

“Conseguimos atingir todos os objetivos que delineámos, muito por

mérito do atleta e da dedicação e motivação que demonstrou.”

Afonso Rocha Coordenador da Unidade de Reabilitação Cardíaca do Instituto CUF Porto

Agarrar a vida com as duas mãos Um ano depois do enfarte sofrido, Iker Casillas segue uma alimentação (ainda mais) saudável do que antes, ganhou gosto pela caminhada e passou a apreciar o descanso e o desporto de menor intensidade. “Sinto-me bem. Gostava de estar a 100%. Gostava de poder voltar a jogar. Mas tenho de estar agradecido porque muitas pessoas não têm a sorte que eu tive”, afirma. “Estou eternamente agradecido tanto aos profissionais da CUF como do FC Porto pelo que se passou naquele dia.” Filipe Macedo e Afonso Rocha também se congratulam com os resultados obtidos. “Conseguimos

atingir todos os objetivos que delineámos, muito por mérito do atleta e da dedicação e motivação que demonstrou”, diz Afonso Rocha. Por sua vez, Filipe Macedo garante que o caso foi “um excelente exemplo do sucesso da medicina atual e da importância do trabalho em equipa”. Com a saúde recuperada, é altura de pensar no futuro, o que no caso de Iker Casillas passará inevitavelmente pelo futebol, embora talvez em funções distintas: “Penso que se vai fechar uma etapa na minha vida como jogador. Quero continuar ligado ao mundo do futebol, mas não sei ainda de que maneira. Ainda assim, estou convencido de que posso ajudar da melhor maneira que sei, usando a minha experiência de 21 anos como atleta profissional.”

+vida _ julho 2020 | 13

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