Revista + Vida 26 | Doenças do Futuro

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DOENÇAS DO FUTURO

Uma área em evolução constante Manuel Cunha e Sá, que acompanha Tiago Moreira há mais de dez anos, admite que, embora os tumores no sistema nervoso sejam mais raros do que outro tipo de carcinomas, casos como o de Tiago são cada vez mais comuns. “Agora que as ressonâncias magnéticas e as TAC são realizadas com maior regularidade, conseguimos detetar tumores numa fase muito precoce, quando ainda nem dão sintomas”, afirma. “Com a cirurgia, quanto mais tumor for retirado, melhor será a sobrevida e melhores serão os resultados da quimioterapia e da radioterapia.” O neurocirurgião refere que, entre a primeira e a última cirurgia a que Tiago Moreira foi sujeito, não houve um verdadeiro breakthrough no estado da arte, mas verificaram-se avanços importantes na forma como se localizam e visualizam os tumores, o que permite uma compreensão mais clara das suas fronteiras. “É este tipo de conhecimento que permite cirurgias cada vez mais precisas, em que se consegue dissecar uma maior quantidade do tumor sem causar lesões ao doente”, diz o especialista, que é também o primeiro a assumir o impacto da componente psicológica para os bons resultados alcançados por Tiago Moreira. “Embora muito preocupado, o Tiago é uma pessoa positiva e agarrada à vida. Sempre tratou dos filhos e manteve-se autónomo. Isso ajudou a que aderisse sempre aos tratamentos”, conclui Manuel Cunha e Sá. “Há que monitorizar a evolução do tumor e tratá-lo como for possível em cada momento.” Numa perspetiva mais geral, o Coordenador do Centro de Neurociências do Hospital CUF Tejo acredita que, nos próximos anos, serão registados avanços substanciais no conhecimento de alguns tumores do sistema nervoso e que a interdisciplinaridade será uma constante no tratamento. “O casamento da Neurocirurgia com as áreas da Neurologia e da Psiquiatria no domínio da neurocirurgia funcional, da Psicopatologia, das alterações do movimento e de algumas formas de distúrbios orgânicos, como a anorexia ou a obesidade, poderão vir a ser positivamente interferidos com o ato cirúrgico.” Seguiram-se tratamentos adicionais de radioterapia e quimioterapia mas, cinco anos depois, o tumor voltou a aparecer, obrigando a uma nova intervenção. “Fui fazendo os tratamentos oncológicos até há dois anos, quando fui operado pela quarta vez, na CUF. Agora estou a fazer um tratamento experimental com imunoterapia. De três em três meses faço ressonâncias. Mantenho-me sempre em contacto com o Dr. Cunha e Sá.” Tiago Moreira assegura que, ao longo de todo este tempo, procurou sempre manter o otimismo e a qualidade de vida. Atribui aos dois filhos a determinação com que enfrentou a doença: “Quando se aproximava uma operação, pensava sempre que era por eles, para os poder continuar a ver.” Também por isso, foi a Paris com os filhos, fez férias e esforçou-se por manter a sua autonomia. Em certas alturas, apenas os agrafos (que guarda religiosamente) e as imagens do cérebro confirmavam que tinha cancro. “Sentia-me bem”, garante. “A atual pandemia foi pior do que o cancro, porque antes estava sempre com os miúdos e, agora, como estou a fazer imunoterapia, tenho de ter mais cuidado.” a minha dor de cabeça”, explica Tiago Moreira, que não esquece o momento em que lhe foi comunicado o diagnóstico. Acabou por ficar internado duas semanas, de modo a que a ação dos corticoides fizesse diminuir o edema. Fez depois a primeira das quatro cirurgias a que viria a ser sujeito, todas realizadas pelo neurocirurgião Manuel Cunha e Sá, que o acompanha desde então.

Superação das expetativas Tiago Moreira

Tiago Moreira conhece bem o potencial da Neurocirurgia. Diagnosticado com um tumor cerebral há dez anos, chegaram a prever-lhe apenas alguns meses de vida. No entanto, quatro cirurgias e vários tratamentos depois, mantém-se positivo e autónomo. O dia, em março de 2010, acordei com uma dor de cabeça especialmente grande, e por isso resolvi ir ver se não seria dos óculos antes de descartar outras hipóteses”, recorda. Para sua surpresa, a oculista recomendou-lhe que fosse de imediato ao hospital. Tiago resistiu durante algum tempo, mas lá acabou por se deslocar às urgências do hospital da sua área de residência. Lá, bastou fazer testes neurológicos e uma TAC para se chegar a um diagnóstico infeliz. “O médico pediu-me para me levantar, fechar os olhos e tocar com o dedo no nariz. E eu devo ter tocado na boca ou na testa, porque ele me mandou de imediato fazer uma TAC que mostrava um edema muito grande. O cancro estava encostado a uma parede do cérebro, a fazer pressão, o que provocava primeiro sinal foi uma dor de cabeça que não passava. No entanto, como na altura trabalhava 12 horas por dia e tinha dois filhos bebés, Tiago Moreira começou por atribuir os sintomas ao cansaço. “Um

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