Revista + Vida 26 | Doenças do Futuro

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DOENÇAS DO FUTURO

ONCOLOGIA A importância de pensar o futuro oncológico

Ana Raimundo • Diretora Clínica da CUF Oncologia

Parece certo que, nas próximas décadas, assistiremos a um aumento na prevalência de doenças oncológicas na população. “Um dos principais fatores de risco associados ao cancro é a idade e, com o envelhecimento da população, estamos à espera de um crescimento na sua incidência”, confirma Ana Raimundo, Diretora Clínica da CUF Oncologia. “Diz-se, aliás, que um em cada três europeus terá cancro. E a tendência poderá ser ainda maior do que essa.” A boa notícia é que isto não significa uma maior mortalidade. As doenças oncológicas são hoje detetadas de modo cada vez mais precoce e os tratamentos têm evoluído de forma relevante. “Cada vez se sabe mais sobre as características moleculares dos tumores e sobre o que é alterado a nível celular. Atuamos especificamente sobre esses mecanismos, o que faz com que as terapêuticas sejam mais dirigidas e eficazes”, explica a oncologista. Ana Raimundo sublinha o caráter extenso da investigação em Oncologia, quer ao nível de tratamentos sistémicos (que se espalham pelo corpo e atuam a diversos níveis) ou locais. “Nestes últimos, surgem novas possibilidades, como por exemplo a radiologia de intervenção e a radioterapia, tratamentos dirigidos a massas tumorais que atuam localmente e controlam muito bem a doença quando esta se encontra localizada e não é passível de ser removida cirurgicamente.” Por sua vez, no que toca aos tratamentos sistémicos, a evolução está relacionada com uma melhor compreensão do mecanismo molecular a nível celular. “Ao perceber que o mecanismo molecular está modificado, podem utilizar-se tratamentos específicos que atuam sobre essa alteração e permitem um melhor e mais dirigido controlo da doença, mais eficaz e com menos efeitos laterais.” O maior conhecimento ao nível dos mecanismos imunológicos também faz com que a imunoterapia, técnica atualmente utilizada no tratamento do cancro do pulmão, da cabeça e do pescoço, do melanoma e de alguns tumores urológicos, se possa continuar a desenvolver. “Hoje, conhecemos melhor os mecanismos imunológicos através dos quais o organismo se defende das células tumorais”, afirma Ana Raimundo. “Quando damos medicamentos que estimulam esses mecanismos, aumentamos a probabilidade de o organismo se defender.” Convidada a olhar para o futuro, a Diretora Clínica acredita que o cancro da mama, o cancro da próstata e o cancro colorretal continuarão a ser os mais comuns. Já no caso do cancro do pulmão, hoje com grande incidência, é possível que se venha a assistir a uma diminuição, caso regrida também o tabagismo na população. A oncologista refere, contudo, que é provável que venham a existir mais casos de cancro do pâncreas e de linfomas, visto que são duas patologias muito associadas à idade e, no caso concreto do cancro do pâncreas, à obesidade. “Tal como com a generalidade dos tumores, a prevenção é fundamental e passa pela adoção de hábitos de vida saudáveis, incluindo atividade física, cuidados com a alimentação (redução na ingestão de gorduras, carnes vermelhas e álcool), não fumar e não ter excesso de peso.”

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RAQUEL WISE/4SEE

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