Revista + Vida 23 | A preparar campeões para a vida

Do sofrimento ao crescimento pessoal O programa de psicoterapia de grupo da CUF, conduzido por Magda Oliveira e Sónia Castro, duas psicólogas com experiência na área da psico-oncologia, é direcionado para um grupo homogéneo de doentes sobreviventes de cancro da mama. “O objetivo principal é a promoção da adaptação das doentes à fase de sobrevivência, quer através da intervenção orientada para as dificuldades e desafios psicossociais, quer através da intervenção orientada para a facilitação do crescimento pessoal e da vivência de emoções e experiências de vida positivas a partir de uma experiência dolorosa como a doença”, revela Magda Oliveira. A psicóloga esclarece ainda que o grupo terapêutico procura “intervir no sofrimento (mal-estar emocional, sintomatologia e trauma) e simultaneamente no crescimento pessoal (mudanças positivas, crescimento pós-traumático)”. Com isto em mente, o programa integra modelos mais tradicionais de mudança psicológica, como a psicoeducação, o treino de competências e de gestão emocional e o suporte-expressão, que se centram no impacto negativo da doença mas orientam, contudo, para “as forças e virtudes do ser humano”. “Um grupo terapêutico constitui um espaço seguro e de partilha onde o doente pode ensaiar mudanças e novas estratégias a implementar nos outros contextos de vida.” Magda Oliveira Psicóloga no Hospital CUF Porto

E DEPOIS DO CANCRO?

De acordo com Magda Oliveira, na fase de sobrevivência do cancro “os doentes podem ter de lidar com um conjunto de consequências e tomar consciência de sequelas (a curto, médio e longo prazo) físicas, psicológicas, familiares, sociais ou profissionais que muitas vezes trazem associados fortes sentimentos de vulnerabilidade”.

Possíveis sequelas físicas Podem ser várias as queixas e os sintomas resultantes dos tratamentos realizados ou ainda em curso. Possíveis sequelas psicológicas O medo de que o cancro retorne faz com que os doentes possam revisitar muitas vezes as experiências dolorosas por que passaram, bem como as mudanças corporais e de rotina, o que potencia sofrimento emocional e problemas de atenção e concentração, entre outros. Possíveis sequelas familiares Dependendo da fase da vida em que a doença ocorre, esta pode afetar várias facetas da vida familiar, compreendendo por vezes questões de imagem corporal, intimidade, sexualidade e/ou fertilidade. Possíveis sequelas sociais e laborais O regresso à rotina pode ser complicado, no sentido em que os doentes estão de volta aos lugares de sempre mas sentem-se diferentes nas suas capacidades físicas e psicológicas, algo com o qual muitas vezes a família, os amigos e os colegas não são capazes de lidar.

QUE MUDANÇAS COMPORTAMENTAIS PODEM ACONTECER?

Segundo Magda Oliveira, a doença oncológica, “enquanto geradora de sofrimento capaz de trazer questionamento”, poderá provocar um “abalo sísmico” na estabilidade do doente, fazendo emergir “uma nova grelha de significação psicológica”. Até porque, ainda de acordo com a psicóloga do Hospital CUF Porto, “experiências de crescimento pessoal não são impeditivas de sofrimento; antes pelo contrário: as duas realidades coexistem e têm uma relação funcional”. A ocorrerem, as mudanças de vida positivas podem verificar-se em três grandes domínios.

A FORMA COMO O DOENTE SE VÊ E SE RELACIONA CONSIGO MESMO

1 .

A FORMA COMO O DOENTE INVESTE E PRIORIZA AS RELAÇÕES INTERPESSOAIS

2 .

A FORMA COMO O DOENTE REDEFINE A SUA FILOSOFIA E ESTILO DE VIDA, PROCURANDO ATINGIR UM NOVO PROPÓSITO E SENTIDO PARA A MESMA

3 .

+vida _ julho 2018 | 51

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