Diagnóstico mais precoce e preciso João Abrantes tem estado ligado à avaliação de algumas soluções de IA na sua especialidade. Uma delas é para apoio à avaliação de radiografias ósseas, sobretudo em contexto traumático. Fraturas ósseas, luxações, líquidos nas articulações, mas também tumores ósseos, são alguns dos problemas que este sistema permite identificar que, por vezes, são pouco percetíveis ao olho humano. Segundo João Abrantes, a IA permite complementar a interpretação humana: “numa situação de emergência médica, ao olharmos para uma imagem, temos tendência a focar- nos no primeiro achado. Se encontramos uma fratura, podemos centrar-nos nela e descurar outras informações menos evidentes no exame, ignorando uma outra possível fratura mais pequena que esteja na periferia da imagem, por exemplo. A Inteligência Artificial, com grande rapidez, consegue fazer uma leitura total e assim apoiar-nos a chegar a um diagnóstico mais completo. Com esta solução reduz-se o número de fraturas não detetadas em até 30%, o que é muito importante”, refere o radiologista. Também em estudo pela CUF está um algoritmo de apoio ao diagnóstico de doenças com radiografias do tórax – o exame de imagem mais requisitado a nível mundial. Este sistema permite detetar, de forma muito rápida, casos urgentes, como pneumotórax ou pneumonias, nos quais o diagnóstico célere é muito importante. E também possibilita o diagnóstico mais precoce de nódulos no pulmão, que podem ser sinais iniciais de tumores. “De acordo com os dados científicos publicados, este sistema permite um aumento de até 36% da nossa sensibilidade na avaliação destes exames”, explica o radiologista. Outra solução que está a ser analisada é uma ferramenta de IA aplicável à mamografia 2D e 3D, no âmbito do diagnóstico do cancro da mama. “Esta solução avalia a existência de lesões suspeitas e faz um relatório, estratificando o risco destes achados suspeitos e identificando a sua localização. Funciona como um segundo par de olhos para o médico radiologista e apoia a sua decisão”, explica João Abrantes. Estudos demonstram que este algoritmo pode aumentar as hipóteses de sobrevivência, fruto do aumento significativo da deteção precoce da doença. Na visão de João Abrantes, a IA desempenha já um papel importante na área da saúde, mas muitos mais desenvolvimentos virão num futuro próximo. Além de uma aplicação mais generalizada no diagnóstico de diversas doenças, é expectável também que a IA venha a permitir identificar “mais precocemente quem tem maior risco de desenvolver uma doença no futuro, ou agravá-la de forma mais acelerada, contribuindo para uma maior personalização do tratamento”.
João Abrantes • Radiologista no Hospital CUF Porto
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ANTÓNIO PEDROSA (4SEE)
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