Sílvia Afonso • Pediatra na Unidade de Neurodesenvolvimento do Hospital CUF Santarém
Embora não possa ser estabelecida uma relação causa-efeito, os estilos de vida atuais da sociedade acabam por ter impacto na saúde mental e física dos mais pequenos. “As crianças fazem menos exercício, têm menos contacto com a natureza, estão mais fechadas”, o que leva a que tenham uma relação com o corpo diferente, mais debilitada, admite Margarida Crujo. A isto juntam-se altos níveis de exigência profissional que vão condicionar a vida de adultos e crianças. “Todas as pessoas querem ter sucesso, querem ser multitaskers e ir atrás desses vários papéis de uma forma idealmente perfeita. E isto tem consequências no tempo que temos para connosco e para com os nossos filhos. Acabamos por perder o lado mais relacional e há miúdos que se irritam mais, outros podem ficar mais tristes e com a sensação de não corresponderem às expetativas”, alerta a médica. “Não posso estar com o meu filho e a pensar no que tenho de fazer daqui a meia hora, isso é tempo de ansiedade que, de facto, não traz nada de bom para ninguém”, diz. “Sendo a infância um período determinante para o desenvolvimento psicológico e neuronal, é importante que as crianças cresçam num ambiente de afeto e amor, em contextos previsíveis e com espaço para o diálogo”, continua a médica, recomendando o agendamento de uma consulta sempre que houver uma mudança brusca no comportamento habitual da criança ou
Foco no neurodesenvolvimento É durante a primeira infância que são adquiridas competências e comportamentos determinantes para a forma como interagimos com o mundo e como aprendemos e nos relacionamos com os pares. Aspetos como a motricidade, a autonomia ou a capacidade de organizar o pensamento são adquiridos na fase inicial da vida, em intervalos de tempo mais ou menos determinados. Há, contudo, casos em que a criança não atinge o nível de desenvolvimento no período esperado, o que pode ser indicador de uma situação patológica. São vários os problemas associados ao neurodesenvolvimento da criança, desde o atraso no desenvolvimento psicomotor, as perturbações da linguagem e a perturbação do espetro do autismo. “As patologias do neurodesenvolvimento são bastante do adolescente. “Uma criança que adorava ir ao futebol e que deixa de querer ir, ou que dormia lindamente e não consegue ser autónoma na gestão do sono, são exemplos de mudanças bruscas que nos devem pôr em alerta. Mas se uma família está preocupada com algum aspeto, algum assunto, esse é motivo mais do que suficiente para marcar uma consulta”.
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LUÍS SOUSA (4SEE)
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