Revista + Vida 32 | Cuidados de saúde para toda a família

testemunhos

HISTÓRIAS FELIZES

Tecnologias de ponta A reparação cirúrgica de hérnias de grandes dimensões é um procedimento de elevada complexidade realizado apenas em centros cirúrgicos de referência por equipas experientes e diferenciadas. Para tratar hérnias complexas, eram maioritariamente necessários procedimentos demorados de reconstrução da parede abdominal, mas atualmente existem novas técnicas que permitem reduzir o tempo de duração da cirurgia e do internamento, diminuindo a probabilidade de complicações e proporcionando uma recuperação pós-operatória mais rápida do doente. A técnica convencional de correção das hérnias abdominais complexas consiste em fazer uma incisão na zona da hérnia e, na maioria dos casos, reforçar as estruturas enfraquecidas. É aplicada uma malha sintética ou biosintética (rede), “como se fosse um remendo”, explica o médico. E acrescenta: “Se os doentes forem corrigidos sem rede, o risco de regresso de uma hérnia é de 50% independentemente da técnica utilizada.” “A forma de tratamento é sempre personalizada para termos elevadas taxas de sucesso. Nas hérnias complexas, com as técnicas tradicionais, a taxa de recidiva é de 44% a 80%. Com as novas técnicas que temos implementado, de acordo com a literatura, é de entre 8% a 23%. “Na CUF, estamos ao nível dos grandes centros mundiais”, sublinha Fernando Ferreira. O cirurgião-geral do Hospital CUF Porto refere que domina cerca de 20 técnicas para corrigir hérnias abdominais, mas sublinha que cada doente é único. O tratamento é decidido caso a caso, como se de um fato à medida se tratasse. Tudo depende da sua anatomia, cirurgias prévias e do seu estado de saúde. Recentemente, o médico utilizou uma tecnologia inovadora, que permite simular as cirurgias mais complexas, reduzindo, assim, ainda mais, o risco de complicações durante e após a operação. Recorrendo a modelos 3D construídos a partir das imagens de TAC, é possível fazer uma simulação virtual da intervenção cirúrgica para que o médico saiba exatamente o que vai encontrar. Há ainda a hipótese de se realizar por cirurgia robótica, uma técnica de precisão, minimamente invasiva e de recuperação mais rápida. “Se houver uma hemorragia intraoperatória, é muito mais fácil corrigir através da robótica do que por via laparoscópica. Ou seja, há menos perda de sangue e menos risco de infeção”, explica o cirurgião-geral. Uma outra tecnologia de ponta a que recorre por vezes é a medicina nuclear, com o apoio de Paula Colarinho, Coordenadora do Serviço de Medicina Nuclear do Hospital CUF Descobertas, que permite identificar ou excluir com precisão uma eventual infeção profunda de uma rede utilizada na cura prévia de uma hérnia. Trata-se de uma técnica pouco utilizada em Portugal no tratamento das hérnias complexas. Primeiro, é realizada uma Tomografia por Emissão de Positrões (PET), exame não invasivo e indolor que permite identificar os pontos de infeção das redes. Depois, realiza uma ou mais cirurgias minuciosas, para retirar o que está infetado e a respetiva correção dos tecidos enfraquecidos após a limpeza cirúrgica”, sublinha.

No caso de Dolores Saraiva, com o apoio de Carlos Vaz, da Unidade de Cirurgia da Obesidade e Metabólica do Hospital CUF Tejo, o seu índice de massa corporal baixou dos mais de 35% para os 32%. Nos doentes em que mais de 20% do intestino está fora da cavidade abdominal – no caso da professora reformada era superior a 40% –, cerca de um mês antes, é injetada toxina botulínica nos músculos laterais do abdómen para induzir uma paralisia temporária e aumentar espaço abdominal para ajudar a devolver o intestino ao seu compartimento original. Dez dias antes, é introduzido um cateter na cavidade abdominal, a partir do qual o doente insufla ar diariamente de modo a alargar ainda mais a cavidade abdominal. Isto minimiza o risco de complicações.

Fernando Ferreira , cirurgião-geral do Hospital CUF Porto, e Dolores Saraiva

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