H á cerca de cinco anos, foi diagnosticada uma hérnia abdominal complexa a Dolores Saraiva, hoje com 68 anos. A antiga professora tinha obesidade mórbida, um dos fatores de risco para o desenvolvimento deste tipo de hérnia, e foi submetida a várias cirurgias bariátricas para perda de peso desde 2001. Esta não foi a primeira vez que Dolores teve uma hérnia, mas esta era mais complicada que as anteriores. “Tinha muitas dores, ficou de tal maneira descomunal que não me conseguia baixar. Ninguém imagina. As dores limitavam muito a minha vida diária”, conta, acrescentando: “Aquilo já não era viver.” Em 2019, a professora reformada decidiu procurar Fernando Ferreira, cirurgião-geral do Hospital CUF Porto diferenciado em cirurgia de reconstrução abdominal, depois de assistir a uma reportagem sobre as técnicas inovadoras utilizadas pelo médico no tratamento de hérnias. As hérnias abdominais ocorrem quando há uma fraqueza da parede muscular do abdómen, formando-se uma saliência para o exterior, que permite que o intestino ou outro órgão saia da cavidade abdominal para debaixo da pele. Podem ser bastante dolorosas, principalmente após a realização de determinadas atividades, como tossir, dobrar o corpo ou levantar algo mais pesado.
As causas mais comuns associadas ao desenvolvimento de hérnias abdominais são a obesidade, a idade, o tabagismo, e cirurgias abdominais prévias. Umas são hérnias abdominais simples, mas parte destas vão transformar-se em hérnias grandes e complexas. Embora não haja um consenso sobre o que é uma hérnia abdominal complexa, Fernando Ferreira refere que há critérios que ajudam a defini-la: ter um tamanho transversal superior a 10cm ou ser junto às estruturas ósseas. O diagnóstico é feito a partir da história clínica do doente e com a realização de uma TAC, com e sem esforço abdominal, e/ou uma ecografia. Diagnosticado o problema, é necessário preparar o doente para a cirurgia. “No pré-operatório, faço tudo o que posso para baixar ao máximo o risco cirúrgico e de recorrência. Se for um fumador, tem de deixar de fumar, porque o risco de infeção é três vezes superior ao de um não fumador. Se for um obeso mórbido, tem de baixar o peso. Um doente obeso mórbido, à partida, tem um risco de recidiva que começa nos 35%”, indica o médico. Outros fatores de risco são a diabetes que obrigam a um controlo mais apertado, o uso de cortisona para tratamento de doenças associadas e a bronquite. Por tudo isto, é fundamental uma abordagem multidisciplinar à doença.
Fernando Ferreira , cirurgião-geral do Hospital CUF Porto, e Dolores Saraiva
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RICARDO CASTELO (4SEE)
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