Ou seja, o doente não tem um tubo na traqueia e não está ligado a um ventilador. Isto permite que a pessoa seja uma parte integrante e ativa do processo de reabilitação”, refere o especialista, para quem as vantagens deste método são claras. “Os doentes fazem fisioterapia ativa, estão em contacto com a família e isto, ultimamente, acaba por reduzir as complicações agudas, como o delírio, e, essencialmente, as complicações a longo prazo”, diz. Protegido de complicações físicas e cognitivas, o doente pode regressar mais facilmente, com maior capacidade funcional e mais depressa à sua vida normal. Porém, nem todos os doentes podem ser colocados em ECMO acordados. De fora ficam pessoas com uma doença pulmonar de tal forma grave ou cujo risco é demasiado elevado. Já pessoas com “um risco aceitável de complicações” e que, ao despertar, estejam neurologicamente aptas para colaborar no processo são boas candidatas para este tipo de suporte. “Devemos otimizar toda a parte prévia de ventilação do doente antes de o colocar em ECMO acordado. Ao fim de 24 a 48 horas, quando conseguimos estabilizar a situação clínica, ponderamos sempre uma tentativa de awake e foi isso que fizemos com o João. “Parámos a sedação, ele acordou bastante estruturado e colaborante, e acabámos por o extubar, permitindo assim reforçar e acelerar o seu processo de reabilitação”, explica João João Mendes. O médico destaca que a família de João Ramos esteve sempre ao seu lado. “Isto é muito importante bidirecionalmente. Estamos a recuperar uma pessoa que não tem capacidade respiratória, mas que está na presença da família: ele descansa a família e a família também o descansa a ele”, diz.
João João Mendes • Especialista em Medicina Intensiva no Hospital CUF Tejo
"A ideia do ECMO acordado é manter estes doentes cognitivamente íntegros, a colaborar no seu processo de recuperação”
Ter a família por perto fez a diferença, inclusive quando a falta de sono conduziu a alguns episódios de delírio. “Tive um ataque de pânico e chamaram a minha filha para ir ter comigo de manhã e para estar lá comigo para ver se eu descansava”, recorda João Ramos. “Ter a família a visitar-me e a passar bastante tempo comigo foi muito importante para me sentir posicionado no mundo”. “A ideia do ECMO acordado é manter estes doentes cognitivamente íntegros, a colaborar no seu processo de recuperação, a comunicar com os profissionais de saúde e com a família”, explica João João Mendes. Isto faz com que a degradação muscular associada a estes processos seja menor e a recuperação mais rápida. “O João Ramos teve uma situação de quase morte e tem 15 dias em ECMO e alta ao fim de um mês, não totalmente reabilitado do ponto de vista motor, mas autónomo”, conta o médico. Por comparação, um doente que fizesse ECMO totalmente sedado demoraria muito mais tempo, mesmo meses, até ter uma recuperação funcional adequada.
João João Mendes
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DIANA TINOCO (4SEE)
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