Revista + Vida 33 | Cuidados diferenciados transformam vidas

Herminda Alves, 84 anos Diagnóstico de fibrilação auricular, insuficiência mitral grave, estenose aórtica severa e doença da válvula tricúspide Tratamento exigiu cirurgia cardíaca complexa Alta 12 dias após a intervenção Recuperação da qualidade de vida Equipas envolvidas: Cardiologia, Cirurgia Cardíaca, Cuidados Intensivos, Anestesiologia, Medicina Interna, Imagiologia, Ortopedia, Medicina Física e Reabilitação, Enfermagem

Nascida em Celorico de Basto há 87 anos, Herminda Alves passou boa parte da vida em França, onde trabalhou como costureira. Hoje divide o tempo entre Braga e o país de adoção e mantém uma vitalidade invejável. “Vou de férias, viajo, dou passeios [todos os dias caminha cinco quilómetros], cozinho, como se tivesse 50 anos!”. Poucos diriam, ao observar o seu estilo de vida, que Herminda é doente cardíaca há mais de 30 anos e que, aos 84 anos de idade, realizou uma complexa cirurgia que envolveu o alargamento da câmara de saída do coração, a reconstrução de duas válvulas e a colocação de uma prótese valvular biológica, entre outros procedimentos. Ao mesmo tempo recuperava de uma queda, na sequência da qual tinha partido a bacia. “Quando fazemos uma cirurgia a um octogenário, um dos aspetos que constitui um desafio é colocarmos o doente a mobilizar-se rapidamente. Se estamos a intervir num doente que teve uma fratura e tem a mobilidade limitada, mesmo que a cirurgia seja um sucesso, tudo pode ficar comprometido”, explica Adelino Leite Moreira, Coordenador de Cirurgia Cardíaca no Hospital CUF Porto e o médico responsável pela cirurgia de Herminda Alves. Semanas antes, Herminda – que tinha vindo a Portugal na altura da pandemia e acabara por permanecer – caíra em casa enquanto brincava com o neto, fraturando a bacia. Em consequência, a doença cardíaca entrou em descompensação, tornando a cirurgia inadiável. Para além da fibrilação auricular

de que sofria há anos, Herminda apresentava uma insuficiência mitral grave, uma estenose aórtica severa – que leva a uma cada vez maior rigidez da válvula aórtica – e doença da válvula tricúspide. “Tinha doença de várias válvulas, tinha também uma arritmia e as cavidades cardíacas muito dilatadas”, resume Adelino Leite Moreira, assumindo que a idade da doente não era o principal condicionante neste caso. “Nós operamos octogenários, mas uma coisa é intervir só numa válvula e num doente que vem autónomo de casa. Outra é ter de realizar múltiplas intervenções envolvendo três válvulas e outras estruturas do coração e grandes vasos num doente internado, descompensado e com mobilidade reduzida”, explica o cirurgião. Uma vez que, do ponto de vista da Ortopedia, era importante que Herminda estivesse imobilizada e, do ponto de vista cardíaco, era essencial que se mobilizasse o mais rapidamente possível depois da cirurgia, as duas equipas mantiveram uma interação estreita ao longo do acompanhamento do caso. “No Centro de Coração da CUF, temos sempre essa abordagem multidisciplinar, em que discutimos os casos em equipa, atempadamente”, explica Adelino Leite Moreira. “Realizar uma cirurgia tão complexa e na qual decidimos fazer ainda uma reparação complexa da válvula mitral aumenta muito mais a nossa responsabilidade, porque estamos praticamente

"Vou de férias, viajo, dou passeios [todos os dias caminha cinco quilómetros], cozinho, como se tivesse 50 anos!”

Herminda Alves

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