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AS VIDAS QUE A CUF TRANSFORMA
“Esta é uma doença que pode ser devastadora. Pode deixar sequelas graves e tem uma mortalidade significativa”, explica o médico, que refere ainda os desafios colocados pela idade do menino, “em que os sintomas são sempre inespecíficos”. “Uma criança de dois anos e meio não tem a capacidade de explicar o que sente”, diz. É, pois, muito importante a observação da criança e uma boa comunicação com os pais para conseguir chegar à informação que a criança não é capaz de transmitir. No caso do Mateus, o estado de consciência alterado – a alternar entre a prostração e a extrema irritabilidade – e a recusa em andar ou falar preocuparam a equipa médica que, à partida, colocou a hipótese de se tratar de um problema neurológico. “No início não encontrámos um diagnóstico óbvio”, conta Hugo de Castro Faria. “Não tinha sinais clínicos de uma meningite, não se encontrava um ponto doloroso onde pudesse ter uma infeção osteoarticular que justificasse a recusa da marcha, e acabámos por fazer umas análises ao sangue”, conta o médico. Os resultados dos exames revelavam uma elevação dos níveis de infeção bacteriana, tendo depois sido feita uma punção lombar para descartar a possibilidade de meningite, e o exame pela Ortopedia Pediátrica. Ao mesmo tempo, foi iniciado tratamento com antibióticos e pedida uma cintigrafia, um exame de Medicina Nuclear que permite avaliar uma possível infeção dos ossos. “No segundo dia, com a cintigrafia negativa, tivemos de ir à procura de outras causas. Em termos de diagnóstico, foi a nossa observação do Mateus que nos continuou a preocupar”, recorda Hugo de Castro Faria. Seguiu-se um electroencefalograma, que mostrava uma lentificação da atividade cerebral. “É um achado inespecífico, mas que muitas vezes se encontra nas encefalites – e ajustámos a medicação para incluir um antiviral, porque estas encefalites podem ser causadas por um vírus – e depois realizámos
Lia Neto • Neurorradiologista no Hospital CUF Descobertas
uma ressonância magnética”, conta o médico. Feito o exame, a equipa pôde finalmente chegar a um diagnóstico de encefalomielite aguda disseminada e iniciar o tratamento com corticoides. “Termos conseguido o diagnóstico atempado, com base em sintomas que ainda eram muito inespecíficos, e instituir uma terapêutica adequada precocemente, melhorou francamente o prognóstico e contribuiu para que o Mateus conseguisse ter uma recuperação total e sem sequelas”, afirma Hugo de Castro Faria. “Podíamos ter ficado tranquilos com todos os exames que fizemos, mas o estado clínico preocupou-nos e quisemos ter a certeza de que a nossa investigação contemplava todas as hipóteses”, diz o médico.
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DIANA TINOCO (4SEE)
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