Revista + Vida 29 | Saúde Mental

MÓNICA SOUSA

É curiosa a forma como Mónica Sousa recorda os primeiros anos de vida da filha Leonor: “Lembro-me de, em muitos dias, ter visto nascer o Sol...” É assim porque, desde que nasceu, a criança nunca adormecia antes das 2h00 ou 3h00 e, durante o dia, também não dormia. Acompanhada pelo pediatra, começou a tomar melatonina ainda bebé. “Só que, passado algum tempo, parecia perder o efeito”, conta Mónica Sousa. “A dada altura, encarámos aquilo como algo inato e acabámos por acreditar que era a realidade dela e que a família teria de se adaptar.” Eventualmente, contudo, tanto a mãe como a filha começaram a acusar o desgaste. “A partir de um certo momento, mesmo que a Leonor dormisse a noite toda, eu continuava a acordar. Vivia cansada e, com um trabalho muito baseado na minha rapidez mental, não conseguia trabalhar de forma eficiente”, admite Mónica, que é investigadora na área das neurociências. Por sua vez, Leonor permanecia desperta durante o dia e, embora até tenha mantido um bom aproveitamento escolar, desenvolveu ansiedade em relação ao momento de ir para a cama. “Não queria ir dormir a casa das amigas porque tinha medo de ser a última a adormecer”, conta a mãe. “Chegou a ligar-me às três da manhã a pedir que a fosse buscar.” A situação arrastou-se durante 12 anos, até que Mónica decidiu marcar uma consulta no Centro de Medicina

do Sono do Hospital CUF Porto. “Marquei apenas para mim, porque naquela altura já tinha dado a Leonor como ‘perdida’, mas a Dra. Marta Gonçalves concluiu que tinha de tratar também a Leonor. E correu muito bem.” Mãe e filha foram tratadas com medicação, no caso de Leonor, com horários específicos de toma de melatonina. Para Mónica Sousa, foi o modo como a medicação foi administrada, o bom relacionamento com a médica e a idade de Leonor que permitiram o bom resultado. “Foram precisos dois a três meses até Leonor regularizar os sonos. Iniciou as tomas cerca de 30 minutos antes da hora a que normalmente costumava adormecer e o horário era ajustado após alguns dias. Isto até conseguir adequar o sono a um horário mais ou menos normal, por volta das 22h30 ou 23h00.” Atualmente, Leonor já não tem medo de ir para cama e sente muito menos ansiedade. Mónica, por sua vez, voltou a dormir sem interrupções e recuperou qualidade de vida. “Sinto-me muito menos cansada”, afirma.

"Sinto-me muito menos cansada"

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MIGUEL PROENÇA (4SEE)

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