Revista + Vida 29 | Saúde Mental

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SAÚDE MENTAL

maior parte das intervenções psiquiátricas em crianças, jovens ou adultos”, assegura Luís Madeira. “É muito importante desmistificar esta questão. Tanto é assim que costumo dizer aos pais que é fundamental falarem com um técnico de saúde se existir sofrimento significativo, mas também que ir ao psiquiatra ou ao psicólogo na adolescência não deveria mudar a interação que os adultos e os seus pares têm para com o adolescente no resto da vida.” Ainda assim, é fundamental que familiares, professores e amigos estejam atentos a sinais que possam indiciar perturbações do foro mental, como alterações do sono, do apetite, emagrecimento súbito ou expressão de sentimentos de tristeza inexplicáveis. A partilha de ideias de morte e os comportamentos autolesivos também devem, naturalmente, ser valorizados, já que implicam o recurso ao serviço de urgência. Luís Madeira e Margarida Crujo acreditam que a pandemia deixou marcas na saúde mental das crianças e dos jovens. “Numa fase inicial, as famílias puderam usufruir de mais tempo em conjunto, pelo que é frequente os pais relatarem o tempo de qualidade que tiveram com os seus filhos e o facto de os terem ficado a conhecer melhor”, afirma Margarida Crujo. No entanto, esta aparente vantagem acabou por desaparecer. “Em 2019, a UNICEF considerava que um em cada sete jovens entre os 10 e os 19 anos tinha uma perturbação mental e Portugal estava em segundo lugar numa lista de 33 países (com uma prevalência estimada de 19,8%)”, lembra Luís Madeira. “A pandemia teve um especial impacto no desenvolvimento dos adolescentes e terá, sem qualquer dúvida, determinado um agravamento deste panorama.”

Dulce Bouça • Psiquiatra no Hospital CUF Descobertas

Anorexia nervosa, restritiva ou purgativa. Bulimia nervosa. Perturbação de ingestão compulsiva. Perturbação restritiva de evitamento. Estas são algumas das principais perturbações alimentares que afetam crianças e jovens e, como explica Dulce Bouça, psiquiatra no Hospital CUF Descobertas, por trás delas está muitas vezes o desconhecimento do próprio corpo e a dificuldade em identificar e lidar com emoções e modificações corporais. Tendo em conta o início insidioso destas doenças, é importante que a família se mantenha atenta a sinais de alarme como restrição alimentar, contagem de calorias dos alimentos, pesagens recorrentes (que rapidamente passam a diárias) e o evitamento de refeições partilhadas. “Quando estes comportamentos se mantêm, deve procurar-se uma consulta tão brevemente quanto possível”, defende a especialista, que aproveita para alertar que estas condições afetam tanto rapazes como raparigas. Já no que toca a idades, a puberdade e a adolescência são os períodos mais críticos para o aparecimento destas patologias, que registaram um crescimento nos últimos dois anos, tanto em número de casos como em gravidade. A CUF disponibiliza consultas multidisciplinares de doenças do comportamento alimentar para o acompanhamento destas crianças e jovens. “O diagnóstico é feito por suspeita de distúrbio alimentar, com avaliação médica do desenvolvimento e avaliação de experiência subjetiva da imagem corporal e do desconforto com o corpo, atendendo sempre às informações dadas pelos pais”, explica Dulce Bouça. “Havendo dúvidas, deve ser pedida uma avaliação por um pedopsiquiatra ou por um psiquiatra.” QUANDO O INIMIGO ESTÁ NO PRATO As perturbações alimentares como a anorexia nervosa têm vindo a aumentar, obrigando a um reforço da atenção da família para precaver consequências nefastas.

Luís Madeira • Coordenador de Psiquiatria no Hospital CUF Descobertas

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