Revista + Vida 29 | Saúde Mental

foco

SAÚDE MENTAL

Garantir a saúde mental desde o berço

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, uma em cada cinco crianças poderá vir a desenvolver uma doença mental. No entanto, e esta é a realidade que mais preocupa Margarida Crujo, Coordenadora de Pedopsiquiatria no Hospital CUF Descobertas, uma percentagem destas crianças nunca será diagnosticada ou acompanhada. A atenção ao bem-estar psicológico deve começar na infância, o mais cedo possível, uma vez que patologias como a depressão ou a ansiedade podem aparecer logo nos primeiros anos de vida. “Pensamos em tristeza quando pensamos em depressão, mas muitas vezes as crianças não estão tristes. Podem, ao invés, manifestar irritabilidade. Por isso, este tipo de diagnósticos acaba por surpreender alguns pais. Mas a verdade é que até os bebés se deprimem”, explica Margarida Crujo. As causas podem ser as mais diversas, mas, quando a depressão surge nos primeiros meses, advém geralmente de questões relacionadas com a vinculação e a disponibilidade afetiva. “Não tendo outra referência, um bebé que nasça numa família em que a mãe esteja deprimida pode deprimir-se. É um bebé que parece estar alheado e não quer conhecer o mundo, embora tenha capacidade para isso. Não está interessado no que o rodeia. Deixa de comer ou tem alterações nos padrões de sono.” Para esta especialista, se os pais ficarem preocupados com algum aspeto do desenvolvimento do

filho, isso é motivo suficiente para recorrerem a uma consulta de pedopsiquiatria. “A nossa consulta não serve apenas para fazer o diagnóstico de uma patologia. Muitas vezes, o que fazemos é assegurar que está tudo bem até determinado momento. Ou seja, as consultas também podem servir apenas para transmitir segurança aos pais”, explica a responsável. Tratando-se de uma consulta generalista, a Pedopsiquiatria abrange o acompanhamento de uma panóplia alargada de doenças que vão desde as perturbações do comportamento a casos de hiperatividade e défice de atenção, passando por patologias do humor, doenças do foro alimentar (como a anorexia ou a bulimia nervosa) ou alterações do controlo dos esfíncteres. O facto de a saúde mental das crianças merecer hoje uma maior atenção do que, por exemplo, há três décadas não é necessariamente resultado de um crescimento efetivo de casos na população infantil. “O que sabemos é que há condicionantes na vida das pessoas que podem favorecer mais a doença mental, ao mesmo tempo que há um aumento da visibilidade em torno da mesma”, afirma a médica. Os estilos de vida atuais integram tipicamente aspetos que podem ser fatores de risco para a doença mental. “As crianças têm menos contacto com o ar livre e passam menos tempo com a família nuclear. Há elementos do nosso estilo de vida que podem condicionar o

30 | +vida

Powered by